A Polícia Federal (PF) encontrou um e-mail na casa do Coronel João Baptista Lima Filho, amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer (PMDB), com indícios que ele foi responsável por uma reforma na casa da Maristela, filha do presidente, em um bairro nobre de São Paulo. Além disso, um dos trabalhadores da obra, que preferiu não se identificar, disse que recebeu R$ 100 mil em dinheiro pelos serviços prestador na reforma completa da residência. Foi apontado que a responsável pelos pagamentos teria sido a esposa e também sócia do coronel, Maria Rita Fratezi.
Em 2011, Maristela Temer adquiriu uma casa de alto padrão no Alto de Pinheiros, uma das áreas mais valorizadas da capital paulista, de 350 metros quadrados. Em 2014, quando Temer era vice-presidente, a casa passou por uma grande reforma. O documento enviado pelo arquitato Luiz Visani, da Visani Engenharia, informa à mulher do coronel, Maria Rita Fratezi, sobre os pagamentos que teriam sido feitos até novembro de 2014 no valor de R$ 44.394,42. No início do mês de junho a PF apreendeu no escritório do militar aposentado, planilhas de movimentações bancárias associadas ao escritório político de Temer e arquivos relacionados à reforma.
Visani lista três itens no e-mail: "1. Mão de obra R$ 26.610,00; 2. Reembolso de material R$ 14.501,70; 3. Complemento 5 de setembro/14 R$ 3.282,72", totalizando os R$ 44.394,42. Não se sabe exatamente qual foi o custo total da reforma, realizada entre 2014 e 2015. Quando questionada, a assessoria de Temer, por meio do seu escritório em Pinheiros, apenas disse que na época a filha de Temer "tinha recursos para custear a obra". O valor do imóvel é avaliado em cerca de R$ 4 milhões.
O arquiteto responsável pela obra, Carlos Roberto Pinto afirmou que recebeu R$ 10 mil para dar entrada e cuidar da aprovação do projeto na Prefeitura. O pagamento foi feito por transferência bancária, em três vezes, pela própria Maristela Temer. “Foi a Maria Rita Fratesi. Ela é arquiteta e a Maristela era cliente dela para fazer essa obra”, disse. O arquiteto contou que Rita era responsável tanto pelo pagamento de mão de obra como dos materiais.
Coronel Lima e sua esposa são sócios na PDA Projeto e Direção Arquitetônica LTDA. A PDA está registrada num imóvel próximo à Argeplan, a empresa de projetos de engenharia do ex-militar, que não foi localizado pela reportagem de A TARDE.
Delação da JBS implica coronel
Os primeiros documentos que relacionam coronel Lima a Michel Temer foram apreendidos na Operação Patmos, deflagrada pela PF com base nas delações da JBS dos empresários Joesley e Wesley Batista. O nome do coronel foi citado no depoimento do executivo do frigorífico, Ricardo Saud, que afirmou ter pago uma R$ 1 milhão, em dinheiro, para Lima, a pedido de Michel Temer. O valor foi entregue próximo à sede da empresa de engenharia que tem o ex-militar como sócio.
“O Temer me deu um papelzinho e falou: ‘Olha, Ricardo, tem 1 milhão que eu quero que você entregue em dinheiro nesse endereço aqui’. Me deu o endereço. Na porta do escritório dele, na calçada, só eu e ele na rua, na Praça Panamericana." disse Saud. “E lá funciona uma empresa que já foi investigada na Lava Jato, que é a tal de Argeplan.". Esse dinheiro seria parte dos R$ 15 milhões de propina que o PT repassou ao então vice-presidente para serem redistribuídos ao PMDB.
Não é a primeira vez que Lima é citado como receptor de propina para Temer. Ano passado, quando um dos sócios da Engevix, José Antunes Sobrinho tentou fechar acordo de delação com o MPF, foi divulgado que a Argeplan e a AGF Consulting tinham vencido uma concorrência de R$ 162 milhões para as obras de Angra 3, em 2012. A Engevix teria sido convidada pelo coronel como subcontratada. Temer tem negado as acusações. Ao chegar nesta terça em Moscou, na Russia, disse em um encontro de empresários que haverá punição a "empresários" desonestos, sem citar a JBS ou Joesley Batista.