A prisão preventiva do ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima repercutiu nesta segunda-feira, 3, em Brasília. Ao lado de Moreira Franco e Eliseu Padilha, Geddel era considerado um dos assessores mais próximos do presidente Michel Temer e, segundo procuradores, vinha agindo para obstruir as investigações. Até novembro do ano passado, quando pediu demissão por ter supostamente solicitado ao então chefe do Ministério da Cultura, Marcelo Calero, para liberar a construção de um prédio, era ele que costurava todos os acordos nas casas legislativas e falava em nome de Temer e de lideranças do PMDB.
Na Câmara, onde está prestes a responder pela denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) por corrupção passiva, Temer pode ver sua situação piorar. Esta é a análise da deputada da oposição Alice Portugal (PCdoB-BA). A líder partidária afirmou que o Brasil vive um momento muito difícil e que a prisão faz parte de um "efeito dominó" do governo Temer.
“Se até agora só 45 deputados manifestaram publicamente que votarão com Temer, acredito que essa prisão do ex-ministro efetivamente impactará essa base e eu espero que rapidamente votem favoravelmente à denúncia. Se Temer tivesse o mínimo de dignidade, renunciaria para poder se defender, tirando o Brasil dessa insegurança política e jurídica. A situação dele é insustentável e a Câmara deve apressar seu afastamento para o bem do País", disse Alice.
A base do governo na Câmara, no entanto, não crê que a prisão de Geddel possa interferir imediatamente nas ações dos parlamentares na casa, especialmente na questão da denúncia da PGR à Temer. De acordo com o vice-líder do PSDB, deputado Izalci (PSDB-DF), é preciso analisar a situação para poder votar de maneira correta.
“ Cada deputado tem que avaliar a denúncia para ver se tem consistência. É preciso cruzar informações porque há muitos interesses por trás disso. Nunca antes tinha ouvido falar de uma delação premiada tão benevolente, com tantos privilégios. E também não dá para tomar uma decisão como essa apenas em função da delação de alguém ou porque não sei quem lá foi preso”, opinou Izalci.
Senado
A prisão de Geddel também repercutiu no Senado. Na opinião de Otto Alencar (PSD-BA), o fato não deverá interferir diretamente na votação da reforma trabalhista. Ele destaca que o ex-ministro de Temer não tinha muita influência na casa. Mas lembrou que na câmara o cenário é distinto.
“Ele era um líder das negociações do governo com aquela casa e isso pode ter consequência na votação da CCJ e como também no Plenário na apreciação do pedido do PGR. A base do atual presidente já está bem fragilizada. Ele deveria entender que o governo acabou. Não existe mais nem do ponto de vista administrativo, nem do ponto de vista moral", afirmou Alencar.
Segundo o senador Agripino Maia (DEM-RN), a prisão de Geddel não muda nada na condução dos trabalhos ou em termos de votos para a reforma trabalhista,
“A reforma trabalhista é um tema institucional, um tema do Brasil. Na visão dos que votam a favor, ela é de interesse do País. Os que votam contra tem suas razões. Nenhum fato terá repercussão nessa votação. O efeito na votação será nulo. A prisão não muda o curso das coisas”, opinou.
Apoio ao governo
Assim como o colega de base governista, o líder do PSDB, senador Paulo Bauer (PSDB-SC), acredita que os fatos negativos não alteraram a condução da matéria. "Tivemos todas as delações, tivemos prisões, gravações clandestinas e ainda assim não parou. Então não pararia por causa da prisão do Geddel. Alguém tão próximo ao presidente já foi pego com a mala de dinheiro. Tantos nomes próximos ao presidente foram denunciados e nunca aconteceu da matéria não ser votada. Não vai acontecer agora”, disse Bauer.
Em relação ao apoio dos tucanos a Temer, o líder tucano reforçou que no dia 12 de junho, a convenção nacional do PSDB havia acordado em permanecer no governo.
"No PSDB existe uma regra: a maioria decide. Não há nenhum fato novo que desencaminhe o partido. Poderíamos ter fatos novos, um novo momento político, mas nós não estamos. Do dia 12 pra cá nada mudou".
Bauer lembrou, no entanto, que a decisão dos parlamentares tucanos no que se refere à denúncia contra Temer é estritamente pessoal. “Alguns deputados podem votar a favor e outros contra porque não se trata de uma posição partidária. É uma questão constitucional. É uma decisão de foro íntima de cada pessoa. Em uma decisão como essa, o partido nunca vai fechar uma posição. Nem a favor e nem contra. Não fez isso no impeachment e não fará agora", avaliou.