Em reunião que contou com presença de movimentos sociais e sindicais, as lideranças partidárias do PT, PDT, PSB e PCdoB decidiram que brigarão para não alcançar o quórum mínimo de 342 deputados necessários para abrir o processo de votação da denúncia pelos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça contra Michel Temer e os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretária-geral da Presidência, Moreira Franco.
De acordo com os oposicionistas, a ideia é expor ao máximo os parlamentares que já estariam sendo pressionados pelo eleitorado em uma possível votação à favor de Temer. Os parlamentares acreditam que se conseguirem postergar o processo em uma semana ou dez dias, é possível que haja mudanças de votos de última hora.
“A responsabilidade de dar quórum é do governo. O problema é político. O governo não reúne mais condições morais , nem institucionais e nem políticas para continuar governando o Brasil. A estratégia central é não permitir quórum para o governo votar, nós vamos dialogar com cada parlamentar para mostrar que este é o melhor caminho até para cada um se preservar”, afirma o líder da Minoria, José Guimarães PT/CE.
O deputado explicou ainda que falará aos deputados para nem mesmo comparecerem à Câmara dos Deputados sob o risco de contarem a presença na Casa. Os parlamentares serão orientados, contudo, a ficarem em Brasília para a qualquer momento serem chamados. Isto porque se o governo conseguir os 342 parlamentares para abrir a sessão de votação, será preciso que a oposição chegue rápido afim de não perder o processo.
“É fundamental que, em primeiro lugar, os 227 deputado que votaram conosco na primeira denúncia não deem presença. Fiquem em Brasília para a qualquer momento possamos dar uma orientação. Segundo, as insatisfações são crescentes. O governo está apavorado porque a cada momento perde os votos, os deputados não querem votar e nós estamos otimistas para o nosso intento principal que é derrotar o governo amanhã”.
A oposição também disse estar atenta aos movimento estratégicos do governo. O líder do PT Carlos Zarattini PT/SP destacou que na última semana houve uma distribuição forte de emendas e cargos, o que sinaliza uma tentativa de compra de votos para denúncia, no que ele apelida de balcão de negócios.
“Não é possível se manter dessa forma. Um governo que tem uma denúncia desse tamanho para ser investigada não pode continuar exercendo poder, como vem exercendo, com base em uma maioria parlamentar alimentada por cargos e emendas. Conclamamos a todos os deputados, principalmente aqueles 227 que votaram pela saída de Temer em agosto que não deem quórum amanhã. Não podemos deixar o governo aprovar aqui a sua continuidade. Veja bem, ele precisa de poucos votos para continuar e nós precisamos fazer para que haja de fato um movimento para que esse governo tenha um fim”.
Além de expor os parlamentares, o adiamento da votação da denúncia pode inclusive tornar o próprio processo mais perigoso para o governo. A vice-líder da Minoria, Jandira Feghali PCdoB-RJ, ao recordar que o governo está premiando deputados apenas para comparecer a sessão e assim obter quórum, explicou que existe a possibilidade de mais informações relevantes sejam reveladas.
“Ganhar tempo é ganhar tempo contra o governo. Não só tem os aspectos da agenda, como também da própria acusação. Ela é muito grave e ainda estamos esperando mais delações. Algumas pessoas ameaçam falar nos próximos dias. Então o tempo nos favorece. Só precisamos de mais 115 votos para permitir a continuidade das investigações".
A deputada fluminense lembra que o adiamento também seria importante para que haja resposta do Supremo Tribunal Federal, STF, ao mandado de segurança que o deputado Rubens Pereira Júnior PCdoB-MA protocolou no órgão na segunda-feira, 23, para anular ato que determina votação unificada da denúncia contra Michel Temer e seus ministros. O processo está sendo analisado pelo ministro Marco Aurélio Mello.
Contas
Nas contas do governo, é dado quase como certo de que terão mais votos favoráveis que na primeira denúncia. A estimativa dos aliados de Temer é obter ao menos 270 votos, sete a mais que a realizada em agosto. Tal número ainda é muito aquém dos 342 necessários para abrir o processo de votação. Por isso o governo vem jogando pesado, em um misto de flertar com cargos e emendas, mas também com forte represália a quem for da base e votar contra.
Pelo lado da oposição, segundo o líder do PSB, Júlio Delgado PSB-MG, haverá também crescimento no número de aliados, saindo dos 227 da primeira votação para mais de 250 neste segundo processo.