Temer terá de lidar com uma base aliada apertada e sedenta de benesses
No dia seguinte à votação da denúncia que, pela segunda vez, livrou o presidente Michel Temer (PMDB) de ser investigado, alguns deputados governistas se diziam assustados com o resultado apertado do placar de 251 a 233. O fato levou parlamentares aliados até mesmo a falarem em "sabor de derrota". O balanço da votação foi considerado negativo para o governo, principalmente quando se pretende votar, ainda esse ano, medidas consideradas impopulares como é o caso da Reforma da Previdência.
Tida como primordial pelo Planalto para ajudar no equilíbrio das contas públicas, a matéria deve sofrer resistência no parlamento. Como se trata de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), são necessários ⅗ da casa, ou 308 votos "sim" para que haja a mudança. Deputados temem desgaste junto às suas bases, sobretudo em um ano pré-eleitoral. Além disso, as promessas de cargos e emendas do governo para os deputados votarem contra a denúncia ainda não foram honradas integralmente, o que pode gerar ainda mais instabilidade.
Na primeira denúncia, a base conseguiu 263 a favor e 227 contrários, uma diferença de 26 votos. A diferença caiu para 18. Base e oposição erraram feio na contagem de votos. Enquanto os apoiadores esperavam algo em torno de 265-270 votos, os partidos contrários estimavam 250. O número de parlamentares faltantes cresceu de 17 para 25. Nos bastidores, a versão extraoficial é a de que os deputados que não compareceram à sessão para não contrariarem tanto o governo quanto as bases eleitorais.
Na avaliação do líder da Minoria, deputado José Guimarães, PT-CE, o governo utilizou todos os mecanismos possíveis para arquivar a denúncia, o que inclui uma somatória bilionária de benefícios a aliados. No ponto de vista político, o oposicionista entende que foi uma derrota de Temer.
"Eles estão perdendo votos. Foi um sacrifício enorme que eles tiveram nesta votação. O arquivamento da denúncia custou ao Brasil R$ 33,9 bilhões com todas as medidas que o governo tomou seja o Refis, a anistia às multas ambientais, a liberação de recursos para parlamentares. O governo acabou com seu capital político. Eles tinham 400 votos, hoje se resume a 200 e poucos. Não se vota mais nada. PEC da previdência está enterrada. Qualquer pauta que signifique tirar mais direitos não passa mais".
O petista opina que todas as manobras utilizadas pelo governo derrubam o argumento central de que a Reforma na Previdência é essencial para equilibrar as contas públicas. "Quem quer fazer reforma para economizar R$ 10 bilhões e gasta R$ 33,9 bilhões nessa denúncia? E isso foi para agora. O custo de 15 dias foi esse".
Também da oposição, a líder do PCdoB na Câmara, a baiana Alice Portugal, acredita que o governo concentrará esforços e tentará de qualquer forma tentar implementar a agenda econômica, que ela classifica como tomadora de direitos.
"Se não vão encarar de frente a reforma da previdência com o medo das urnas, eles vão criar manobras de prejuízo à política da previdência social, que talvez seja a mais importante de distribuição de renda do País. Viveremos tempos difíceis em relação a direitos e só uma nova eleição resolve esse problema".
Tropa e choque
Desde esta quinta-feira, 26, as principais lideranças ligadas ao Planalto, em conjunto com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), estão se reunindo para definir uma agenda de votação para as reformas. Muitos defendem que ao menos a questão da idade mínima seja colocada em votação no que se refere à previdência.
Um dos representantes da chamada "tropa de choque de Temer", o deputado Carlos Marun, acredita que seja possível votar medidas como a previdência. Ele admite que todo o processo que se sucedeu a partir da revelação do dia 17 de maio, quando foi revelado o áudio de conversa entre Temer e Joesley Batista, atrasou todo o calendário, além de enfraquecer a base. O parlamentar, no entanto, acredita que o apoio de parlamentares que votaram contra o governo nesta denúncia possa fazer o diferencial para as reformas.
"No momento do quórum qualificado, vamos somar parlamentares que simpatizem com os projetos. Vejo membros do PSDB, colocando com muita veemência, que apoiam as reformas, que votarão as reformas, mas queriam o afastamento do presidente. Espero que estejam falando a verdade. Somando esses parlamentares do PSDB, com a base que vamos construir, praticamente estará construído o quórum para aprovação de reformas".
Bases
Da Bahia, o governo pode contar com dois votos de tucanos para a reforma da previdência. Apesar de votarem contra Michel Temer na denúncia, tanto Jutahy Junior quanto João Gualberto têm defendido a posição favorável às reformas.
"Eu mesmo votando contra o Temer, vou votar em tudo o que for bom para o Brasil. Se vai conseguir aprovar ou não é outra história", afirmou o deputado João Gualberto, que avalia ainda, que está mais difícil votar a reforma da previdência.
Já o deputado Aleluia (DEM) lembra que a proximidade das eleições traz dificuldades para aprovação de medidas como essas, o que exigirá uma maior negociação por parte do governo.
"Se os partidos de oposição tivessem um pouco mais de juízo, veriam a necessidade em aprovar a reforma agora. Assim, o próximo presidente que assumir, em janeiro de 2019, encontraria um Brasil em condições de governar. Hoje, o país tem dificuldades para se governar e o principal entrave para o crescimento são as contas públicas que tem como principal vilão a previdência, sobretudo a dos servidores públicos".
Aleluia ressalta que não considera a alteração nas regras de previdência um ato impopular, mas sim uma chance de dar equivalência de tratamento ao mecanismo que define como o mais importante programa popular do Brasil. "Isso é o que todos temem. Os que estão privilegiados, que formam uma elite capaz de pressionar os políticos, é que são contra a reforma. O povo só tem a ganhar com a reforma".