Marco Antônio Jr.
O depoimento do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi o mais longo e com maior número de detalhes desde que o parlamentar foi preso, há um ano. Disse que está em estado de “penúria” financeira com bens bloqueados desde julho de 2016 e que seu advogado, Délio Lins e Silva Júnior, trabalha sem receber honorários. A TARDE elencou as justificativas de Cunha para se desvincular de casos de corrupção e sua tentativa de invalidar os depoimentos de Lúcio Funaro, ex-operador do PMDB ao juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal, do DF.
Histórico do contato com Funaro
Cunha, então no PP, disse ter conhecido Lúcio Funaro em 2002, quando disputava as eleições para deputado federal. Na época, Funaro o ofereceu R$ 300 mil a título de doação, para custear sua campanha. “Após as eleições, como eu fiz 101 mil votos, ele [Funaro] me chamou e me ofereceu mais R$ 150 mil em doação oficial sem contrapartida, sem nada”, disse admitindo que a partir das eleições, os dois se tornaram amigos.
A partir de operações realizadas no mercado financeiro, com informações fornecidas por Eduardo Cunha, Funaro teria iniciado um contato frequente com parlamentares em Brasília: “passou a vir toda semana para Brasília, jantar comigo, apresentei vários deputados, cujos nomes foram omitidos nesta delação”, acusa.
Cunha também disse que a indicação de Raimundo Nonato, por Funaro, para cargos na Caixa Econômica, “nunca existiram” ao mencionar que as indicações no PMDB são lançadas em um banco de dados e entregues por ofício. Cunha elencou uma série de cargos políticos ocupados na Caixa Econômica que eram discutidos entre o primeiro escalão do PMDB com Henrique Alves, hoje preso, Eliseu Padilha, Moreira Franco, o então presidente do partido e deputado Michel Temer e o ex-Ministro Chefe da Casa Civil Antônio Palocci, também preso.
O peemedebista também disse que a indicação de Fábio Cleto ao cargo de ex-vice-presidente da Caixa não foi feita pelo PMDB mas por diretores da Caixa na época, e a escolha feita pelo então Ministro de Fazenda, Guido Mantega.
Chalita
Eduardo Cunha voltou a dizer que apresentou Lúcio Funaro ao então candidato à prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita, em 2012. “Estive duas vezes com eles, mas não sei quanto acertaram, quanto foi doado” explicou. Gabriel Chalita negou em outras ocasiões conhecer o doleiro, e ter recebido qualquer doação por meio da influência de Funaro.
Joesley Batista
Cunha disse que conheceu Joesley Batista em 2012, em meio às eleições, por meio de Henrique Alves e Lúcio Funaro, em um almoço na cobertura do empresário, em São Paulo. No entanto negou ter tido influência nas negociações de doação para as campanhas. “passou a me considerar como um posto Ipiranga”, ironizou sobre o depoente. Segundo ele, o tema de uma reunião onde participaram Temer e Joesley, eram os projetos da Eldorado Celulose, empresa do grupo J&F e não a doação de dinheiro.
Cunha disse ainda que a suposta compra de seu silêncio foi forjada para derrubar o mandato de Michel Temer. Sobre uma suposta dívida de Joesley com Cunha, conforme a acusação de Funaro, o ex-parlamentar negou. Quero dizer que o senhor Joesley Batista não me deve um centavo. Só deve minha dignidade, roubada com suas mentiras”.
FI-FGTS
O ex-parlamentar também negou que teria influência sobre o fundo de investimentos do FGTS. Admitiu, no entanto, que esteve com Henrique Alves e Funaro, em um restaurante em Brasília, após uma votação no Congresso mas que negou ter havido, na ocasião, uma entrega de dinheiro, como o doleiro afirmou em acordo de colaboração premiada. “Disse que falava com todo mundo, mandava mensagem, é o estilo dele”, acusou. Cunha se esforçou para desconstruir a versão de Funaro que diz ter encontrado Henrique Alves em seu apartamento funcional em Brasilia, quando o peemedebista ocupava uma residência oficial, em função de ter ocupado o cargo de Presidente da Câmara, em 2013.