Senador reconheceu a gravidade do momento mas elencou combate à pandemia como prioridade
A atuação do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) no combate à pandemia tem sido cada vez mais criticada por oposicionistas e por antigos aliados. Com o levante de pautas de um possível impeachment por conta de crimes contra a população, o burburinho no Congresso e no Senado Federal tem posto um ponto de interrogação no futuro do ocupante do Planalto.
Em entrevista ao programa Isso é Bahia, da rádio A TARDE FM , o senador e ex-governador da Bahia, Jaques Wagner (PT-BA), reconheceu a gravidade do momento mas pregou cautela para se falar de impeachment. De acordo com ele, o momento é de concentrar esforços para garantir a saúde da população e o melhor caminho seria que "o presidente tomasse juízo e fosse governar".
"Eu prego cautela pois o centro das atenções do povo brasileiro hoje é a superação da Covid-19. A democracia precisa de paz e estabilidade. Quando eleito um presidente, o normal é viver quatro anos e, se ele não está se saindo à altura, mudar a partir do processo eleitoral. Agora, se o país está entrando em um processo de desembrego e quebradeira da economia não podemos permitir que o país vá para o fundo do poço", avaliou.
Segundo Jaques, em vez de ficar se pautando no debate ideológico, amplificado pela disputa com o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), na "guerra da vacina", Bolsonaro tem que tomar as rédeas do país e incentivar o desenvolvimento científico para que se possa imunizar a população.
"Em uma crise como a da Covid, evidentemente a culpa não é dele, mas, a responsabilidade de sair dela é. Então eu preferia que o presidente tomasse juízo e fosse governar. Vá comprar vacina que o que chegou só dá para janeiro. Ficou esperando e chegamos atrasado na fila. Espero que através do Butantan e da Fiocruz, dois institutos de grande qualidade no Brasil, consigamos produzir o suficiente para imunizar o povo brasileiro", desejou.
Forças Armadas
Na última segunda-feira, 19, em uma reunião com apoiadores em frente ao Palácio do Planalto, Bolsonaro voltou a por o sistema democrático em suspeição ao afirmar que 'Quem decide se o povo vai viver em uma democracia ou ditadura são as Forças Armadas'.
Para Wagner, esse tipo de comportamento é visto com maus olhos dentro do corpo das forças e vão contra a tradição de disciplina e logística das instituições, como exemplificou com a atuação durante a epidemia de chikungunya durante seu mandato frente à Casa Civil no governo Dilma Rousseff.
"Fazíamos reuniões semanais com o exécito para alinhar a logística necessária para levar repelente para comunidades de risco nos mais longevos cantos do Brasil. Hoje você não vê nada disso. A Casa Civil sumiu e quando foi inquirida pelo TCU disse que não era com ela. O país tá pegando fogo e o chefe da pasta diz que a responsabilidade não é dele? É um desencontro".
"Existem muitas declarações de militares da reserva, já que até pela disciplina qum está na ativa não vai dar esse tipo de declaração, demonstrando um claro descontentamento. Quem mais sabe que ele é um mau profissional são as Forças Armadas. Ele foi expulso de lá. E agora a postura do ministro da Saúde também depõe contra a tradição do Exército brasileiro. Tenho certeza que aqueles que prezam pelas cores do Exército, da Marinha e da Aeronáutica não gostam do que estão vendo", finalizou.