Marília Arraes (PT-PE) insistiu em manter a candidatura a um cargo na mesa
A disputa pelos cargos na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados para o biênio 2021-2022 promete esquentar o plenário da Casa nesta quarta-feira, 3, com bate-chapas entre partidos do Centrão e da esquerda. A lista, fechada na noite desta terça, 2, indicou que o Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Social Liberal (PSL) tinham protocolado mais de um candidato para vagas na 2º vice-secretária, 2º vice-presidência e na 1º Secretaria.
>>Distribuição de cargos na Mesa Diretora da Câmara é definida
O PT terá três candidaturas para 2º secretária da mesa: Marília Arraes (PT-PE), João Daniel (PT-SE) e Paulo Guedes (PT-MG). O bate-chapa foi provocado pela insistência de Arraes em lançar seu nome para disputa, acreditando, segundo afirmou um dos líderes do PT sob anonimato, que ganhará visibilidade e poder de fogo para sua candidatura ao governo de Pernambuco em 2022.
A insistência irritou a ala mais ideológica da legenda, que viu no decisão uma afronta, já que é a primeira vez que uma candidatura não oficial aparece no PT com força para se eleger com o apoio externo; já que a deputada do PT de Pernambuco, segundo sinaliza alguns parlamentares, deverá ter o apoio da base Lirista, dada proximidade do deputado federal de alagoas com ela.
Diante da sinalização de uma possível derrota do candidato oficial da legenda em um eventual bate-chapa, a alta cúpula do PT entrou em diálogo com Guedes e Daniel, pedindo para que retirassem suas candidaturas, no afã de evitar um revés que, se acachapante, poderá provocar um racha interno, o que será festejado com ares de vitória política no Palácio do Planalto.
“A candidatura de Marília, apesar de ser contra regulamentação do partido, poderá ser adotada por ele. Ela se comprometeu a fazer política com o partido e o PT não permitirá uma eleição em que um membro derrote outro com votos do governo Bolsonaro. Há no partido muita insatisfação com ela, diante da sinalização que deu, de que, se não acolhida sua candidatura, ela poderia sair como candidata avulsa. No PSOL, PSB e PT não tem essa coisa de candidatura avulsa”, reforçou o deputado federal e vice-líder do PT, Afonso Florence (PT), que chegou a ser especulado como um nome caso o PT tivesse adquirido a vice-presidência.
Um parlamentar da Bahia, que preferiu não se identificar, afirmou que a conversa é de que Marília Arraes, caso leve até as últimas consequências sua candidatura, impondo derrota fragorosa aos candidatos do PT, poderá ser convidada a se retirar da legenda.
O PSD é outra legenda que não conseguiu chegar ao consenso. Para vaga na 2ºvice-presidência, disputarão os deputados federais Delegado Éder Mauro (PSD-PA) e André de Paula (PSD-PE) e Júlio Cesar (PSD/PI). Na 1º Secretaria a disputa será entre o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar (PSL-PE), e o deputado federal do PSL de Minas Gerais, Léo Motta.
Fora do bloco
O imbróglio no PT é resultado de uma decisão adotada ainda na segunda-feira, (1), quando o novo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), decidiu retirar a legenda do blocão formado para apoiar o candidato derrotado à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ), Baleia Rossi (MDB), sob a justificativa de que o partido se inscreveu com seis minutos de atraso, às 12h06; fato negado por líderes da sigla.
A decisão do novo gestor da Câmara afetou o espaço destinado ao partido de Lula na Mesa, que, pela regra da proporcionalidade, se tratando do maior da Casa e consequentemente do bloco que integrava, teria direito a um dos dois cargos estratégicos: ou a vice-liderança ou a 1º secretária, responsável pelas finanças na Casa.
Com a retirada do PT do bloco, o que sobrou para sigla foi a 2º secretária. Lideranças do partido reclamaram da decisão de Lira, que classificavam como um ato de autoritarismo e de desrespeito ao pacto da boa convivência que pregava antes de ascender ao posto máximo da principal casa legislativa do país. A deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR), classificou o ato como uma “violência contra a democracia” e “golpe na oposição para mandar na mesa da Câmara”.
“Sobre a decisão de Lira. O PT tem protocolo de envio pelo sistema ainda dentro do prazo. Enviou, o sistema ficou rodando, quando concretizou o processo, tinha passado do prazo. Aí há uma lacuna no regimento. O que vale é o horário do envio ou da data de recebimento? O regimento é omisso neste ponto. Com a informatização da vida, às vezes falta um regulamento para dar nitidez ao que ocorre”, explicou Florense.
O vice-líder do PT afirmou que o deputado Zé Guimarães (PT-CE) divulgou uma foto do horário protocolado, comprovando a inscrição antes do encerramento do prazo. Ele criticou Lira por forçar a saída do PT do bloco e atuar para redução da influência da legenda na Mesa Diretora da Casa, o que poderia inviabilizar sua governabilidade.
“O deputado Rodrigo Maia acatou o pedido do PT de estar no bloco. É um ato juridicamente perfeito por parte de Rodrigo, que foi um intérprete do regimento a bem do interessado. Arthur Lira tomou posse e invalidou o ato do presidente no exercício de suas prerrogativas e agora estava tentando chegar a um acordo. Forçaram a redução do lugar do PT, que teria direito por conta do bloco, na Mesa Diretora. Ele condicionou o aceite do bloco à retirada do PT”, critica Afonso Florence.
A saída do PT do bloco de Baleia gerou controvérsia e fez lembrar de uma situação vivida pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), na votação da Mesa Diretora da Câmara em 2017, quando foi excluída da composição por Rodrigo Maia (DEM-RJ), após se inscrever com 1 minuto de atraso.
“Teve um ano que o PDT atrasou 1 minuto 40 segundos e ficou fora do bloco. O líder era André Figueiredo (PDT-CE), tivemos problema na assinatura e o Maia não liberou; ficamos de fora, não teve jeito. Foram anos ruins para o PDT. Acho que o PT não deveria ter atrasado”, afirmou o presidente do PDT Bahia, o deputado federal Félix Mendonça Jr. (PDT).
O deputado federal Bacelar (Podemos) afirmou que o ambiente na Casa nesta terça-feira, 1, em bom baianês, para alguns partidos, era de “briga retada”. Ele afirma que se de fato o PT, sabendo do horário, se inscreveu fora do prazo, não pode reclamar.
“Esse momento me faz lembrar de um velho ditado: Dormientibus non succurrit jus. Que quer dizer que o direito não socorre aos que dormem. Estar atentos aos horários é o básico. Você pode ter toda razão, mas não cumpriu o prazo, acabou; pelo amor de Deus, se perderam mesmo o prazo é de um amadorismo sem tamanho e não mereciam estar na mesa”, ponderou Bacelar.
O deputado federal Arthur Maia (DEM) foi outro que culpou o PT pelo erro da não inscrição no bloco e elogiou o trabalho de Lira, quem apoiou na eleição da Câmara.
“Lira tomou a decisão correta. As inscrições eram até às 13h; é bom lembrar que o PDT perdeu a vaga uma vez por causa disso. Ontem, o PT perdeu o prazo e o Rodrigo, contestando o regimento, botou o pessoal para fazer parte da Mesa. Lira submeteu ao plenário essa decisão, não foi uma decisão monocrática, ele seguiu a regra correta, o que estava previsto no regimento. Foi um ato de incompetência do PT, que foi o único partido que não protocolou e Rodrigo, apesar de tudo, colocou eles na Mesa, dando a entender que essa regra não se aplica aos amigos dele”, criticou Arthur Maia.