Ao anunciar que vai deixar o DEM, o deputado Rodrigo Maia fez duras críticas a ACM Neto
O racha no Democratas, entre o presidente nacional do partido, o ex-prefeito ACM Neto, e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, teve, nesta segunda-feira, 8, o seu ponto ápice. Ao anunciar que deixará o DEM, Maia fez duras críticas a Neto, a quem atribuiu parte da culpa pela derrota do seu candidato à sucessão na Câmara, Baleia Rossi (MDB-SP), para o líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), que teve quase o dobro de votos.
Na entrevista ao jornal Valor Econômico, Maia acusou o ex-prefeito de Salvador e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), de fazerem jogo duplo. Neto havia dado diversas declarações afirmando que o candidato da legenda seria Baleia Rossi, fato que não conseguiu confirmar no dia da eleição, por conta de um processo de adesão em massa dos membros do sigla à candidatura de Lira.
“Foi um processo muito feio do Neto e do Caiado. Ficar contra é legítimo, falar uma coisa e fazer outra não. Falta caráter, né”, afirmou o ex-presidente da Câmara.
Maia também criticou o que classificou como uma adesão do DEM ao projeto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele se referia ao apoio dado por Bolsonaro à candidatura da legenda na disputa pelo comando do Senado Federal, que culminu na vitória de Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
“Vou pedir minha saída no TSE (...). Hoje posso dizer que sou oposição ao presidente Bolsonaro. Quando era presidente da Câmara, não podia dizer. Mas agora quero um partido que eu possa dormir tranquilo de que não apoiará [o presidente]. (...) Não quero participar de um projeto que respalda todos os atos antidemocráticos”, ironizou Maia.
O destino de Maia deve ser o PSDB. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), confirmou nesta segunda-feira o convite feito ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, para se filiar ao partido.
Os dois se reuniram na noite deste domingo, 7, em São Paulo, na casa do governador paulista, onde Doria fez o convite também para o vice-governador do estado, Rodrigo Garcia, a deixar o Democratas e se juntar ao projeto tucano.
“Será uma honra para o PSDB ter o Rodrigo Maia e Rodrigo Garcia nas fileiras do PSDB, dadas as circunstâncias atuais do partido que eles ajudaram a formar, a fundar e a fortalecer. Mas não me cabe aqui as razões que levaram ambos a deixar o DEM, mas ficaremos todos felizes se ambos puderem considerar a hipótese de se filiar ao PSDB”, afirmou Doria nesta segunda.
Resposta de Neto
Em nota enviada à imprensa, ACM Neto rebateu Maia, a quem classificou como “mal perdedor”. Neto disse torcer para que “o deputado Rodrigo Maia reencontre o equilíbrio e a serenidade”. Ressalta que “Maia foi um presidente da Câmara importante para o Brasil” . Mas, em tom de ironia, disse que “dá pena vê-lo deixar, de forma tão lamentável, a posição de liderança que exerceu”.
“Infelizmente, o deputado Rodrigo Maia tenta transferir para a presidência do Democratas a responsabilidade pelos erros que ele próprio cometeu durante a condução do processo de eleição da Mesa Diretora da Câmara. No empenho em transferir as responsabilidades pelo seu fracasso, Rodrigo Maia tenta negar que insistiu, até o último momento, na possibilidade de conseguir o aval do Supremo Tribunal Federal (STF) para se perpetuar no cargo de presidente da Câmara. Todos sabem que Rodrigo Maia tinha um único candidato à presidência da Câmara, que era ele mesmo”, alfinetou ACM Neto, em nota transmitida à imprensa.
O líder do Democratas na Câmara dos Deputados, o deputado Efraim Filho (DEM-PB), também se manifestou através de uma nota, onde engrossou o coro de críticas ao ex-presidente da Casa e membro do DEM do Rio.
“O Democratas é um partido plural e não tem dono. O líder é eleito pela vontade expressa da maioria. Essa mesma maioria, que torna a decisão legítima, faltou a Rodrigo Maia para compor o bloco de centro-esquerda na disputa pela presidência. Na verdade, ao tentar levar o partido para essa posição, sem consultar a bancada sobre o que desejava, Rodrigo se viu isolado e perdeu o comando do processo, e muitas vezes o alertamos sobre essa dificuldade”, avaliou, em nota, Efraim Filho.
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta também avalia deixar o DEM após a legenda se aproximar de Bolsonaro. Mandetta, que deixou o governo Bolsonaro em abril de 2020, se diz surpreso com a postura do presidente do partido, ACM Neto.
Neto incluiu, entre as opções para 2022, apoiar a reeleição de Bolsonaro. O ex-ministro e o dirigente partidário têm uma reunião presencial marcada para depois do Carnaval. De acordo com o jornal O Globo, Mandetta disse nos bastidores que classifica como "improvável" a permanência na sigla.
Procurado, Mandetta evitou falar sobre o assunto e disse que só tomará sua decisão após uma reunião com ACM Neto. O ex-ministro, contudo, criticou Neto pela profusão de apoios que considera para o ano que vem — o dirigente avalia apoiar a reeleição de Bolsonaro, bem como as candidaturas do próprio Mandetta, de João Doria (PSDB), de Luciano Huck (sem partido) e de Ciro Gomes (PDT).